Nota:
Ao longo desta série, caminhamos ao lado de Chico Xavier. Vimos o homem por trás do médium, mergulhamos na biblioteca de sua alma e testemunhamos sua fé se transformar em caridade. Agora, para concluir nosso percurso, vamos analisar como ele enfrentou as tempestades que inevitavelmente surgem para quem vive sob a luz.
Uma trajetória de tamanha magnitude e impacto, vivida sob os olhos do público, não passaria incólume por um mundo cético. Como toda figura que desafia o comum, Chico também enfrentou sua cota de tempestades: críticas, acusações e controvérsias que buscaram questionar a autenticidade de sua missão. É ao analisar sua postura diante delas que encontramos a prova final de sua grandeza.
As acusações mais comuns eram as de fraude. Céticos sugeriam que ele obtinha informações por meios convencionais ou que a qualidade de suas obras era fruto de seu próprio talento. A resposta de Chico, no entanto, nunca foi um contra-ataque. Sua defesa não estava em palavras, mas em sua própria vida. Qual seria a motivação para uma fraude que durou décadas? Ele não acumulou riqueza; viveu na mais profunda simplicidade. Não buscou poder; dedicou-se a servir anonimamente. A coerência entre sua mensagem e sua vida era seu único e mais eloquente argumento.
Mais recentemente, surgiram questionamentos sobre sua posição em relação à homossexualidade. Aqui, novamente, sua atitude foi de serenidade e respeito. Em 1971, no programa "Pinga-Fogo", numa época em que o tema era tratado como doença ou tabu; de uma forma não tão distante da polarização que vemos hoje, a resposta de Chico foi um pedido de dignidade:
"O homossexualismo, assim como o bissexualismo, são condições da alma humana. Não devem ser interpretados como fenômenos espantosos, como fenômenos atacáveis pelo ridículo da humanidade."
Sua ênfase não era na polêmica, mas no respeito que ele pedia para o assunto. Ele não revidou o preconceito; ele o dissolveu com uma visão compassiva, mostrando uma mente décadas à frente de seu tempo.
E é aqui que encontramos o arremate de seu legado. A figura de Chico Xavier continua a inspirar não porque ele foi um ser mítico, isento de falhas ou imune a ataques. Seu verdadeiro poder reside em ter nos mostrado um caminho possível de evolução espiritual, apesar de todas as dificuldades.
Ele nos provou que a fé não é acreditar no impossível, mas trabalhar incansavelmente no possível. Ensinou que a caridade não é um ato, mas um modo de vida. E demonstrou, com cada gesto, que o amor incondicional não é uma utopia, mas uma escolha diária.
Seu convite ecoa até hoje, não para que sejamos exatamente como ele, mas para que, inspirados por seu exemplo, busquemos ser a versão mais completa e amorosa de nós mesmos.
Nota Final da Crônica e da Série
É importante fazer um esclarecimento sobre os termos "homossexualismo" e "bissexualismo", citados na entrevista de Chico em 1971. Naquela época, o uso do sufixo "-ismo" era comum. Hoje, ele foi abolido, pois é associado a patologias e doenças, o que não reflete a compreensão atual da orientação sexual como uma característica humana. A manutenção dos termos na citação serve apenas para garantir a fidelidade histórica à sua fala.
Essa discussão sobre respeito e linguagem nos conecta diretamente à nossa crônica #10 – Quando a Bandeira se Torna Arma. A postura de Chico nos lembra que, para além dos rótulos e das palavras, o que importa é a dignidade com que tratamos o outro. Como aprendemos na Doutrina Espírita, o espírito não possui gênero, e o respeito a todas as formas de ser e amar é a base da verdadeira caridade.

Comentários
Postar um comentário