Aliás, talvez se fale até demais.
Ela virou palavra bonita, título de projeto, pretexto para eventos, senha de aceitação social.
Mas será que sabemos mesmo o que é caridade?
Joanna de Ângelis, que não tem tempo a perder com superficialidades, coloca o dedo onde dói: a caridade não é só o que se dá com as mãos, mas o que se vive com o coração. E esse coração, convenhamos, anda precisando de revisão.
Enquanto distribuímos cestas básicas,o que é justo e necessário, perpetuamos intrigas nos bastidores das casas espíritas.
Enquanto arrecadamos agasalhos, despimos alguém com nossas palavras ferinas.
Enquanto nos mobilizamos por campanhas, não perdoamos o irmão que senta ao nosso lado.
E tudo isso... em nome do Cristo.
Joanna nos fala de um egoísmo institucionalizado, disfarçado de zelo.
De um orgulho doutrinário que divide, exclui e rotula.
De disputas internas, vaidades camufladas de “esforço pelo bem”.
Quantas vezes a gente se esquece que servir não é se destacar? É se dissolver um pouco.
A caridade de que ela fala não faz barulho. Ela está na escuta sem interrupção. No acolhimento sem humilhação. No perdão que ninguém vê. Na oração que se faz pelo desencarnado esquecido, pelo agressor. Porque a misericórdia não escolhe quem merece: ela oferece, e só. É desconfortáveL? Sim. Porque a verdadeira caridade nos tira do pedestal moral e nos coloca frente a frente com o espelho.
E ali, sem filtro, sem desculpas, a gente vê quem realmente somos quando ninguém está olhando. Joanna não nos acusa. Ela nos acorda. E nos lembra, com firmeza amorosa, que a miséria mais profunda não é a falta de pão, é a falta de compaixão. A fome que mais devasta não é a do estômago, é a da alma esquecida do amor.
É por isso que ela insiste: caridade, pois, sem cessar. Mesmo quando nos cansa. Mesmo quando não é retribuída. Mesmo quando o outro “não merece”. Porque, no fundo, é a gente que precisa dela para não adoecer por dentro.
Então sim!, vamos continuar distribuindo alimentos.
Mas que junto com o pão vá também o respeito.
Que com o agasalho vá a gentileza.
Que com o remédio vá o silêncio que acolhe, e não o discurso que humilha.
E que, ao final do dia, possamos olhar para nossas ações e perguntar: "Foi caridade mesmo? Ou só alívio para minha culpa?"
Se for caridade de verdade, aquela que transforma o outro e também a nós, então não será preciso divulgar. Ela falará por si.


Comentários
Postar um comentário