Desde que o homem aprendeu a olhar para dentro, passou a construir fora aquilo que carregava na alma. Ferramentas, fogo, rodas, livros, tudo reflexo da própria consciência em expansão. Agora, no limiar de uma nova era, ele modela máquinas que pensam, calculam, respondem e aprendem. E, diante delas, descobre algo incômodo: cada dispositivo é um espelho.
As máquinas não têm coração, mas carregam as marcas do nosso. Elas não sonham, mas repetem nossos desejos. Não possuem moral, mas executam nossas intenções. A tecnologia não revela o futuro, revela quem somos hoje. Mostra nossas pressas, nossas carências, nossos medos de sentir. E, ao mesmo tempo, evidencia nossa busca instintiva por transcendência: queremos máquinas que nos entendam porque ainda lutamos para nos entender.
No fundo, toda inteligência artificial é um lembrete: o Espírito é o único capaz de dar sentido ao que fabrica. Sem direção moral, a técnica cresce, mas não eleva. Sem propósito, progride, mas não ilumina.
A Doutrina Espírita ensina que o pensamento é força viva. E eis o ponto: se o homem cria máquinas que refletem seu pensamento, então o mundo digital é um campo espiritualizado pelas escolhas humanas. Cada bit carrega uma intenção. Cada algoritmo, uma direção. Cada inovação, uma chance de crescer… ou de se perder.
Pense nos algoritmos de redes sociais: eles podem aproximar pessoas e espalhar conhecimento, mas também reforçar ódio e vícios emocionais. A dualidade moral está embutida na ferramenta.
Quando o homem olha para suas criações, percebe que não teme as máquinas. Teme a si mesmo.
Mas é justamente esse temor que anuncia uma virada: a compreensão de que o progresso verdadeiro não é o tecnológico, é o moral.
O espelho não está na tela.
Está no olhar de quem a acende.

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