Nota do Autor: Esta crônica, da Série Alma Inteira: A voz da Humanidade, integra uma reflexão sobre como a expressão humana evolui ao longo dos séculos. Cada etapa, da pedra ao silício, revela uma única busca: compreender o mistério de existir e o laço invisível que nos une ao Criador.
Antes de existir palavra, existia silêncio.
E, dentro dele, um homem tentando decifrar o mundo.
Ele olhava para o céu escuro, para o fogo que dançava, para os animais que desafiavam sua fragilidade… e algo dentro dele queria registrar. Não por vaidade, nem por técnica, mas por necessidade profunda: testemunhar a própria presença na Terra.
Foi assim que surgiram as primeiras marcas nas cavernas.
Não eram apenas desenhos, eram orações primitivas.
Eram tentativas de diálogo com o desconhecido.
O homem pré-histórico não sabia escrever, mas sabia sentir.
E cada traço no paredão úmido era um pedido: que a caça não falhasse, que a noite não fosse longa, que a morte não chegasse cedo demais, que o mundo fizesse sentido.
Aquelas pinturas mostravam o animal, a flecha, o movimento… mas o que elas realmente revelavam era o invisível: o medo, a esperança, a fé embrionária, o assombro diante da vida. O homem pintava para lembrar a si mesmo que era frágil. E, justamente por ser frágil, era capaz de grandeza.
Do ponto de vista espiritual, essas manifestações não eram apenas arte rupestre. Eram o despertar da consciência, o primeiro passo do espírito rumo à razão. Ali começou a longa jornada do ser humano em busca de compreender quem é, de onde veio e para onde vai.
A Doutrina Espírita nos ensina que o progresso é inevitável, lento e contínuo. Pois bem: naquela parede escura, entre fuligem e pigmentos naturais, estava o primeiro capítulo dessa caminhada.
Cada figura era uma ponte entre o visível e o invisível, entre o homem que teme e o homem que pensa, entre o instinto e a espiritualidade nascente.
Séculos depois, quando olhamos para essas pinturas, não vemos apenas história, vemos humanidade: a alma tentando falar antes de aprender a pronunciar palavras.
E assim começou tudo.
Com um homem dentro de uma caverna, tocando a parede fria, tentando dizer ao universo:
“Eu estou aqui. Eu existo. Eu procuro.”
E o universo respondeu, silencioso, paciente, permitindo que, de traço em traço, o espírito humano se erguesse para a luz.
Adendo Doutrinário: A arte espírita, como nos lembra Kardec em Obras Póstumas, é o complemento da arte cristã. A arte primitiva das cavernas, ao buscar a perfeição da forma, já carregava a semente da arte que faria a alma palpitar sob a matéria, anunciando a busca por um mundo moral que se edificaria sobre as ruínas do mundo antigo.

Comentários
Postar um comentário