#24 - O Que o Pranto Ensina

 


Nota da autora: A Série Entrelinhas de Luz busca oferecer uma perspectiva, à luz da Doutrina Espírita, sobre as situações que vivenciamos. O objetivo é convidar à compreensão e à caridade, elementos essenciais para o diálogo e o acolhimento, conforme os ensinamentos do Cristo.


Há dores que parecem não caber dentro da gente. Elas chegam sem aviso, rompem o silêncio, mexem com o que achávamos já firme. E, por mais que tentemos resistir, há momentos em que o pranto escapa e nele se revela algo que as palavras não dão conta de dizer.

Na vivência humana, o sofrimento é a escola mais silenciosa e, ao mesmo tempo, a mais fecunda. Tem dias em que a alma parece um terreno depois da chuva: encharcada, pesada, sem lugar para firmar o pé. Às vezes penso que o tempo está me ultrapassando, e fico tentando entender onde foi que a estrada começou a se estreitar. Mas, mesmo cansada, não me entrego ao desespero. A fé não me livra das provas, eu sei. Ela apenas me impede de naufragar nelas.

A Doutrina Espírita nos recorda que nada é inútil na escola da vida. As lágrimas, quando aceitas com resignação e esperança, lavam o olhar, purificam os sentimentos e revelam um caminho que antes não víamos. Como disse Emmanuel, “nossas provas, nossas bênçãos”. O pranto, então, deixa de ser castigo e se torna aprendizado.

Há bênçãos ocultas nas horas sombrias. Quantas vezes, depois de uma decepção, aprendemos a discernir melhor o coração humano? Quantas vezes uma perda nos libertou de algo que nos impedia de crescer? O sofrimento, quando aceito com serenidade, é como a poda que prepara o galho para florir de novo.

O Anjo da Guarda, no poema publicado na Revista Espírita de setembro de 1862, nos lembra:

“Consolai-vos, enxugai o pranto... Deus, o Deus tão bom e vosso Pai, A todos deu um anjo e um irmão.”

Nada está fora do amparo divino. Nenhuma lágrima é desperdiçada. Cada dor tem um tempo de cura, cada choro, um aprendizado que nos aproxima de Deus.

O que o pranto ensina é simples e grandioso: que a força não está em resistir sem sentir, mas em continuar confiando mesmo sentindo tudo. Depois das lágrimas, o coração se torna mais sensível ao bem, mais compreensivo com o outro e mais humilde diante da vida. E talvez seja assim que começamos a aprender, lentamente, em meio às provas, a amar como os anjos que um dia seremos.



Revista Espírita: Publicada em Paris entre 1858 e 1869, é uma das primeiras tentativas modernas de estudar os fenômenos espirituais com método e espírito científico. Mais do que tratar de mediunidade, reflete uma busca filosófica por sentido e moralidade, mostrando como um educador francês procurou conciliar razão e fé. É uma leitura histórica, curiosa e provocadora, o retrato de um século XIX inquieto, tentando compreender o invisível com a lógica da ciência nascente.









Nota: As crônicas desta série são escritas a partir de trechos que me atravessam nas leituras das obras espíritas e de situações vivenciadas. Não falo de verdades prontas, nem me coloco como dona de saber algum. Escrevo como quem caminha entre o que compreende, o que sente e o que ainda tenta viver. Cada texto nasce do encontro entre a luz da Doutrina Espírita e as sombras que ainda habito. São reflexões de uma alma em travessia, que encontra nas entrelinhas dos livros o convite silencioso à transformação. Se algo do que escrevo ecoar em ti, que seja por sintonia, nunca por exigência. Afinal, cada consciência floresce ao seu tempo, e todo aprendizado verdadeiro começa no terreno sagrado da liberdade interior.

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