Nota da autora:
A Série Entrelinhas de Luz busca oferecer uma perspectiva, à luz da Doutrina Espírita, sobre as situações que vivenciamos. O objetivo é convidar à compreensão e à caridade, elementos essenciais para o diálogo e o acolhimento, conforme os ensinamentos do Cristo
Há dias em que a vida se fecha em pequenas portas invisíveis, firmes, que desafiam a paciência e testam a serenidade do coração. É diante delas que sentimos o atrito do mundo, o choque de vontades, a tensão silenciosa do convívio. E, ainda assim, é nesse espaço estreito que aprendemos o valor da mansuetude.
Essa virtude, ensina-nos a Doutrina Espírita, não é a submissão cega nem fraqueza. É força contida. É calma que ouve antes de falar. É compreensão que pondera antes de julgar. É resistência que suporta antes de reagir. É a coragem de permanecer sereno no turbilhão da vida, de conservar a paz dentro do santuário íntimo do espírito.
Por vezes, desejamos erguer muros de impaciência, responder à irritação com igual amargura, ceder à cólera. Mas o bem exige mais: exige bondade consciente, generosidade que floresce mesmo quando parece ignorada. A provação não nos vem para ferir; vem para ensinar. Cada dificuldade carrega uma lição, cada obstáculo é convite ao crescimento interior.
Assim, o coração se acalma. Os pensamentos se clareiam. A vida se descortina como campo fértil de aprendizado. Descobrimos que a verdadeira vitória não está em dominar o outro, mas a nós mesmos; não em impor, mas em compreender; não em reagir, mas em permanecer íntegro, paciente e sereno. Na quietude da alma, percebemos que cada desafio é uma oportunidade de crescimento, de transformar irritação em serenidade, conflito em aprendizado, porta fechada em passagem para o aperfeiçoamento interior.
Entre portas silenciosas, compreendemos que a mansuetude não é fraqueza, mas força do espírito. Jesus nos lembra: “Bem-aventurados os que são brandos, porque possuirão a Terra; bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus*.” A brandura, a moderação, a afabilidade e a paciência são leis silenciosas que regem a harmonia entre os homens.
Cada palavra impaciente, cada gesto violento fere a lei do amor e da caridade. Suportar, compreender, agir com benevolência diante das contrariedades é mais que exercício espiritual. É caminho para a paz real, para a serenidade que não depende do mundo exterior.
Enquanto aguardamos os bens do céu, a mansuetude nos ensina a cultivar harmonia na Terra, a preservar a fraternidade, a permitir que a justiça divina se manifeste na vida cotidiana. Quem a pratica se mantém íntegro, sereno e fiel à lei do amor, transformando pequenos conflitos em oportunidades de crescimento, portas silenciosas que conduzem ao aperfeiçoamento do espírito.
Crônica inspirada em uma situação vivenciada, onde somos convidados a escolher nossa reação, e é nessas situações que começamos a colocar em prática o que o Evangelho de Jesus nos propõe. A passagem das Bem-Aventuranças, no Capítulo IX de O Evangelho Segundo o Espiritismo, nos recorda a brandura e a pacificação: “Bem-aventurados os que são brandos, porque possuirão a Terra.” (Mateus, 5:5) - “Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus.” (Mateus, 5:9).
As crônicas desta série são escritas a partir de trechos que me atravessam nas leituras das obras espíritas e situações vivenciadas. Não falo de verdades prontas, nem me coloco como dona de saber algum. Escrevo como quem caminha entre o que compreende, o que sente e o que ainda tenta viver.Cada texto nasce do encontro entre a luz da Doutrina Espírita e as sombras que ainda habito. São reflexões de uma alma em travessia, que encontra nas entrelinhas dos livros o convite silencioso à transformação. Se algo do que escrevo fizer sentido para você, que seja por sintonia, nunca por exigência. Afinal, cada consciência floresce ao seu tempo, e todo aprendizado verdadeiro começa no terreno sagrado da liberdade interior.
Gratidão pelo texto ♡
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