Nem toda fala mansa é bondade.
Nem toda doação é desinteresse.
Há ações que se parecem com o bem, mas são moldadas para aplauso.
Há sorrisos que escondem soberba.
Há caridades que mais se parecem com estratégias de autopromoção do que com verdadeiros movimentos da alma.
No mundo da aparência, é fácil confundir luz com brilho.
É fácil confundir o impulso sincero de servir com o desejo disfarçado de ser reconhecido.
E, às vezes, nem quem pratica percebe.
No Espiritismo, aprendemos que o bem verdadeiro nasce do íntimo da humildade que compreende a própria pequenez diante da grandeza divina. Ele não exige palcos, nem câmeras, nem curtidas. Ele acontece onde ninguém vê — e, por isso mesmo, é poderoso.
Jesus nos ensinou a fazer o bem sem tocar trombetas.
E Kardec nos alertou sobre a caridade como o “mais sublime dever”.
Mas há momentos em que a vaidade, sutil como um perfume suave, se insinua no coração. E o orgulho se veste de virtude, buscando ser admirado pela bondade que finge cultivar.
Há caridades que são autênticas armadilhas do orgulho, que se mascara de virtude para não ser reconhecido em sua fragilidade.
A caridade que ilumina, ao contrário, é silenciosa, paciente, perseverante. Ela se constrói na intimidade do coração, no sacrifício discreto, no bem que se faz sem esperar nada em troca.
Entre parecer bom e fazer o bem, o Espírito na caminhada evolutiva escolhe o caminho estreito o da verdade consigo mesmo, onde a caridade não é um disfarce, mas o reflexo do amor que já nasceu dentro.
Caminhar na própria verdade é um ato de coragem. É descer ao silêncio das próprias dores, reconhecer limites, aceitar imperfeições e soltar máscaras que já não servem mais.
Nessa travessia, muitas vezes, a alma se sente nua, vulnerável, cansada, sem respostas fáceis. Mas é nesse espaço de honestidade consigo mesmo que nasce uma força profunda e transformadora.
Porque, quando a verdade habita em nós, a caridade deixa de ser um gesto ou uma obrigação para se tornar a expressão natural do amor que brota da alma reconciliada.
A caridade verdadeira não é um ato isolado, é o fruto maduro de uma alma que aprendeu a se amar com serenidade, a reconhecer no outro um irmão em caminho, e a servir sem esperar retorno.
Ela não se esconde atrás de aparências nem busca reconhecimento.
Ela brota do encontro sincero entre a nossa verdade e o mundo que nos chama para o bem.
Assim, a jornada que começa no olhar interno, que desvela nossas sombras e dores, prepara o solo para a semente da caridade florescer.
É um convite a caminhar do eu que sofre para o eu que serve, não por dever, mas por amor.
Que essa travessia seja leve para o coração e firme no propósito.
Porque é nela que a alma se revela inteira, Alma Inteira, e ilumina o caminho de todos que cruzam seu passo.

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