Precisamos de coragem para mudar, e não apenas enxergar quem e o que somos.
Não só mergulhar em nosso íntimo, mas desnudar a alma.
Não se contentar apenas com a reflexão do que somos, mas nos render!
A gente diz que confia em Deus, e confia! Mas no fundo, a gente ainda tenta controlar a própria vida como se Deus precisasse de ajuda pra fazer dar certo. A gente ora, mas quer escolher os caminhos. A gente entrega, mas segura a pontinha da corda. A gente diz “seja feita a Tua vontade”, mas no íntimo pensa: 'Mas que não doa tanto assim, tá?'
Essa é a brutalidade da fé que amadurece: Deus não veio nos poupar da dor. Ele veio nos ensinar a atravessá-la sem perder a alma.
A gente já perdeu coisas e pessoas que amava, já ouviu silêncios que machucaram mais do que gritos, já se decepcionou com gente que prometeu presença e mesmo assim, ficamos! Permanecemos! Amamos! Construímos! Mas lá no fundo, guardamos o medo de que, se um dia desabar de verdade, ninguém venha nos levantar.
Esse é o nosso maior segredo: queremos colo, mas temos vergonha de pedir, queremos ser amparados, mas temos medo ser um fardo, queremos ser escolhidos, mas aprendemos a se contentar com ser 'necessário'.
Então a gente vai se convencendo de que ser forte é o que nos resta.
Mas força, não é nunca cair. Força é permitir que alguém nos veja caído. É confiar que não precisamos ser perfeitos para sermos amados. É poder ser frágil sem ser descartável.
Por que nos emocionamos tanto com os textos espirituais, com as preces profundas, com as passagens sobre o amor de Jesus?
Porque lá no fundo, temos sede de ser acolhidos sem prova. De ser amados sem ter que brilhar. De ser compreendidos até naquilo que a gente não entende.
E sabe qual é a verdade mais brutal de todas: Já somos tudo aquilo que passamos a vida tentando alcançar. Só não paramos para nos olhar com os olhos de Deus; esses que veem beleza até na ferida que ainda não cicatrizou.
A gente precisa ser mais evoluído, sim! Mas precisamos ser mais honestos com a alma que já temos e conquistamos.
Agora, a pergunta que fica: Eu quero me transformar? Ou só quero entender melhor? Ou quero os dois?
Se queremos nos entender e nos transformar precisamos atravessar a fogueira. E atravessar a fogueira é permitir queimar tudo o que é excesso, tudo o que é defesa, tudo o que é medo vestido de ‘virtude’.
Porque verdade sem transformação é só contemplação. E transformação sem verdade é autoengano.

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