#06 – A Bússola e o Passo

 

Duas frases.

Duas linhas retas que apontam para o infinito.

E, entre elas, a vida inteira tentando entender o que fazer com tanto recomeço e tão pouca ternura. 

"Fora da caridade não há salvação."

É curioso como uma sentença tão breve consegue conter tamanha exigência.

Ela não pergunta no que você acredita, e nem qual é sua crença religiosa ou se você acredita ou não em Deus!

Ela não te cobra títulos, nem provas de fidelidade.

Ela quer saber o que você faz pelo outro. Não aquele outro ideal, que pensa como você e agradece depois. Mas o outro real. O que te irrita. O que não entende. O que te fere, às vezes. E, ainda assim, precisa de você; como você, tantas vezes, também precisou de alguém.

A salvação não está na recompensa, está no gesto.

Caridade é esse verbo manso que anda descalço e toca onde ninguém mais quis tocar. 

Ela não livra da dor, mas nos resgata da indiferença.

Ela não evita quedas, mas nos devolve a humanidade cada vez que paramos para levantar alguém.

E então vem a outra frase, quase como um lembrete sussurrado pelos que já entenderam tudo:

"Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei."

E cá estamos nós, nascendo, morrendo e tentando entender se estamos mesmo progredindo... Essa lei não grita. Ela espera.

Ela permite tentativas. Dá tempo. Oferece outra chance.

Mas também nos cobra, de maneira silenciosa, que não estacionemos.

O tempo não nos transforma por si só.

O que nos transforma é o que fazemos com ele.

É o que aprendemos com cada dor, o que oferecemos em cada reconciliação, o que calamos por amor, o que dizemos com firmeza quando é justo.

Essas duas frases são bússola e passo.

A primeira te ensina a direção: vá pelo amor.

A segunda te lembra que é preciso continuar caminhando. Sempre.

E se você tropeçar, como todos tropeçamos, lembre-se: ainda haverá outro nascimento.

E outra chance de fazer da caridade não uma exceção, mas o próprio caminho da alma em evolução.