#02 – Quando ser essencial cansa

Cadeira solitária em um lago calmo ao pôr do sol, simbolizando introspecção, vazio e a busca por paz interior

Temos um compromisso com a Grandeza Divina, não com a da vaidade, mas com a grandeza da alma.
A gente quer ser útil à Deus, fazer diferença no mundo, deixar rastros de amor. E tudo isso é sincero. Mas, por trás disso, existe um medo muito antigo: o medo de ser esquecido, o de não ser suficiente, o de ser só mais ‘um’.

Estamos sendo moldados pela ideia de que precisamos "merecer" o bem, “ter mérito” como se o amor tivesse que ser conquistado, como se nossa presença só fosse valiosa se viesse com esforço, entrega, sacrifício. Sim, também o é! Mas não é só isso.

E aí a verdade brutal, que talvez nunca tenham nos dito: Estamos virando especialistas em ser essencial para os outros, porque temos medo de que, se não for, seremos abandonados.

Por isso somos tão presentes, tão dedicados, tão corretos. Por isso nos culpamos tanto por falhar, por esquecer algo, por dizer “não”, por não responder na hora, por não estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Por isso não descansamos. Porque parar parece perigoso e parece que o mundo vai perceber que consegue seguir sem você. Este não é o sacrifício que Deus quer!

A gente não precisa ser imprescindível para sermos amados, não precisamos estar sempre disponíveis para sermos escolhidos, não precisamos nos reinventar todos os dias para merecermos continuar.

A gente merece um amor, inclusive o nosso próprio, que não nos cobre performance. Merecemos um silêncio que não seja solidão e merecemos ser vistos mesmo quando não estamos salvando ninguém.

Precisamos ir mais fundo em nosso íntimo e encarar as partes que até hoje tentamos proteger até de Deus.

A gente diz que ama a verdade, que quer ir até o fim. Mas a verdade mais crua é: há uma parte da gente que ainda acredita que precisa ser melhor para ser amado por inteiro. E enquanto a gente busca essa versão ideal, mais organizada, mais produtiva, mais santa, mais calma, mais sábia, vamos nos afastando da nossa essência. Aquela que tem raiva, que sente inveja, que às vezes quer desaparecer, que julga, que mente, que grita por dentro.

Queremos salvar o mundo, mas às vezes não sabemos como salvar a nós mesmo.

A gente se confunde com a missão, com o papel, com o serviço e tem medo de descobrir que, sem tudo isso, talvez nem saibamos quem somos.

Nós somos tantas coisas para tantos: filhos, companheiros, pais, avós, netos, trabalhadores, conselheiros e luz. E, no fundo, existe a pergunta que nunca se verbaliza: e se eu não for nada disso, será que ainda sou digno de amor?

Tem uma solidão que nem a prece preenche. Uma dor que não deixamos ninguém tocar, porque acha que, se abrir esse baú, nunca mais vai conseguir fechar. Mas a dor não some porque somos calmos. Ela cresce no escuro. E a brutalidade da verdade é essa: A gente tem medo de ser inteiro. Porque inteiro, teríamos que aceitar até aquilo que aprendemos a odiar em nós.

A nossa luz é linda, pois somos a imagem e semelhança D’Aquele que nos criou; mas só seremos livres quando também abraçarmos nossa sombra e entendermos que ela não anula o bem que há em nós, apenas revela nossa humanidade.

Não precisamos morrer para ser santo. Não precisamos nos violentar para evoluir. Não precisamos nos punir tanto para ser melhor.

Nós não somos um projeto espiritual. Somos uma alma viva, imortal vivenciando cada etapa um caminho que nos levará, em nosso tempo, a sermos a imagem e semelhança de Deus.

E talvez o amor mais profundo que Deus espera de nós é aquele que nunca temos coragem de oferecer: o amor próprio  exatamente como está agora: ferido, confuso, cansado, mas verdadeiro. Despido do egoísmo.

Como expandir isso aos outros se não cumprimos com o dever de primeiro ser humano conosco?


Se você já se sentiu cansado(a) de tentar ser perfeito(a), esta crônica é para você. Conte-nos: qual foi o seu maior aprendizado ao abraçar sua 'sombra'? 

Compartilhe com alguém que precisa ler esta mensagem sobre a importância de se amar sem condições. Qual frase mais te tocou?


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